Promotor
Museu do Oriente (Fundação Oriente)
Breve Introdução
Nova Música Antiga de Filipe Faria (n.1976) e Sérgio Peixoto (n.1974) sobre poesia portuguesa dos séculos XV e XVI
Que razão teria a melodia?
Luís Pedro Cabral
Se por algum acaso cósmico o tempo se decantasse, se por algum ritual de necromancia se escutassem os pensamentos, se o tempo fosse um templo, se a fé fosse uma aia, se a eternidade fosse um instante e o destino simplesmente o que já foi, que falta nos fariam as palavras?
Se o amor fosse um lugar exacto, se todos os mundos estivessem separados pelo que os une, se a ausência fosse uma equação perfeita, se houvesse um sítio onde todas as possibilidades eram possíveis e todas as impossibilidades impossíveis, se a razão fosse todas as coisas que não se explicam, se os corpos não necessitassem de outros, as almas de outras, de que nos serviria a linguagem?
Se o vazio fosse território e a queda ascendesse, se a matéria fosse um átomo, o universo, um astro, o caos, harmonia, as fracções, inteiras, as profecias, passado, o passado, presente, se o sentimentos não se sentissem, se os sentidos não fossem exercidos, se tudo o que é não fosse, a estrofe, poema, as fragilidades, pedra, as recordações, éter, as peregrinações, sedentárias, se todas as coisas complexas fossem linearidades, se todas as ilusões fossem concretas, os ciclos, ciclo, um segundo, éon, a inteligência o inteligível, se as dúvidas fossem certezas, o prematuro, definitivo, o mutável, imutável, o irreal, realidade, se todos os cintilares fossem um espectro obscuro, a melancolia, satisfeita, se as multitudes fossem um ponto, as imensidões, um beco, os instrumentos, silêncio, a partitura, letra morta, se o céu e o inferno fossem um paraíso conjugal, se o fim fosse o final, que razão teria a melodia?
Nova Música Antiga
Luís Pedro Cabral
Filipe Faria e Sérgio Peixoto partiram de novo para o tempo, viajando pelo vasto território da língua, na sua métrica, ritmos e harmonias, como se levitassem entre-mundos, resgatando da poesia portuguesa dos séculos XV e XVI as palavras, para as reinventar em novos sons, novas melodias, trazendo-as para a contemporaneidade, em analepses de magia.
Os dois compositores escrevem os doze novos vilancicos que compõem Folia Nova, como estações cronográficas da intemporalidade, usando da "folia" - no Auto da Sibila Cassandra, de Gil Vicente (1465/1536), a folia, de origem portuguesa, é caracterizada como uma dança de pastores - o seu tradicionalismo harmónico e rítmico, para um universo conceptual, diálogos de criatividade, novas linguagens.
O vilancico é uma das mais importantes expressões poéticas e musicais da música sacra barroca da Península Ibérica, muito popular e amplamente executado do século XV aos confins do século XVIII. Na sua forma primitiva era do profano. À bolina da sua popularidade, disseminou em sacro território, como uma heresia que lentamente se tornou hóspede da liturgia.
Ficha Artística
Filipe Faria e Sérgio Peixoto: direcção artística
Filipe Faria: voz, percussão, viola de mão 4 ordens, bandurra descante
Sérgio Peixoto: voz
Pedro Castro: flautas
Tiago Matias: tiorba, guitarra barroca, guitarra romântica
João Hasselberg: contrabaixo
Programa / Cartaz
- Nunca foy mal nenhum moor, Filipe Faria (n.1976) e Sérgio Peixoto (n.1974) sobre Bernardim Ribeiro (1482?–1552?)
- Endechas a Ba´rbara escrava, Filipe Faria e Sérgio Peixoto sobre Luiz Vaz de Camões (c.1524-1579/1580)
- Recercada octava sobre tenore "La Folia", Diego Ortiz (c.1510-c.1576)
- Es tan grave mi tormento, Filipe Faria e Sérgio Peixoto sobre Pêro de Andrade Caminha (1520-1589)
- Fandango, Tiago Matias (n. 1979)
- Ysabel y mas Maria, Filipe Faria e Sérgio Peixoto sobre Anónimo (s.XVI)
- Recercada primera sobre tenore "El passamezzo antiguo", Diego Ortiz
- Lágrimas de saudade, Filipe Faria e Sérgio Peixoto sobre Anónimo (s.XVI)
- Cantiga sua, partindo-se, Filipe Faria e Sérgio Peixoto sobre João Roiz de Castel-Branco († após 1515)
- Recercada segunda sobre tenore "El passamezzo moderno", Diego Ortiz
- Dicen que me case yo, Filipe Faria e Sérgio Peixoto sobre Gil Vicente (c.1465–c.1536)
- Amor loco, Filipe Faria e Sérgio Peixoto sobre anónimo (s.XVI)
- Soñava, madre, que via, Filipe Faria e Sérgio Peixoto sobre Pêro de Andrade Caminha (1520-1589)
- A partida que me aparta, Filipe Faria e Sérgio Peixoto sobre Anónimo (s.XVI)
Preços
Bilhete: 15€
(descontos em vigor)